16 de jun. de 2011

20 de abr. de 2011

CAM ROCK 2011 - ABBEY ROAD

Foram 13 os albuns (long playing) e 23 os compactos (45 rotaçoes) originalmente lançados pelos Beatles ao longo dos 8 anos de sua fenomenal carreira discografica, num total de 203 cançoes, a maior parte das quais tornadas celebres e essencial parte integrante da trilha sonora da historia do mundo contemporaneo. Se por um lado o album “Sgt. Pepper” è considerado pela maior parte dos criticos o album mais importante na historia do Rock, por outro, é com “Abbey Road”, o ultimo disco que eles gravaram, exatamente naquele emblematico 1969, ano em que se realizou o antologico festival de Woodstock (3 dias de paz, amor e musica), que se materializa a sintese mais elaborada de todos os elementos estetico-ideologicos criados e desenvolvidos pelo quatro rapazes originarios de Liverpool, com a participaçao fundamental e determinante , vale recordar, daquele que é considerado o quinto beatle, o produtor e arranjador George Martin. E’ exatamente Martin quem diz a proposito de Abbey Road: “é uma especie de Sgt. Pepper numero dois, e eu entre os dois prefiro Abbey Road. E’ igualmente inovativo, mas de uma maneira mais controlada.”
Pra mim, que escutei Abbey Road pela primeira vez aos 14 anos, poucas semanas apos o seu lançamento em 1969, e cuja experiencia de audiçao desde entao exerceu sobre mim uma especie de efeito radioativo saudavel em meu dna musical, è uma grande satisfaçao realizar com alunos e ex-alunos dos laboratorios rock do CAM este concerto em que executamos todas as 17 faixas do disco.
Luiz Lima

2 de mar. de 2011

Adeus Suzanne Rotolo


New York - "Era a coisa mais erotica que eu jamais tinha visto. Encontra-la foi como entrar nos contos das mil e uma noites. Começamos a conversar e a minha cabeça começou a girar". A mulher que ha meio seculo atras fez girar a cabeça de um jovem de vinte anos chamado Bob Dylan morreu depois de uma longa doença nesta New York distante anos luz daquele village de artistas que ela propria ajudou a construir. Nao existe fan de Bob Dylan que nao a conheça: Suzanne Rotolo era a menina que aparece na capa de The Freewheelin'.
De braço com o seu Bob no coraçao do Village: imagem de um tempo feliz feito de musica e amor. E luta.
Suze era tres anos mais nova que Robert Zimmerman quando - com apenas dezessete anos - encontrou aquele jovem violonista folk que destrinchava o repertorio de Woody Guthrie em um bar italiano entre Mercer e a West Fourth Street. O encontro que mudou a historia da musica jovem e rebelde. Foi aquela menina quem introduziu Bob recem chegado em New York nos ambientes mais radicais e politizados da metropole. Ela, a pequena ativista "italiana", a filha de pais imigrantes de segunda geraçao ja integrados na contracultura de New York: o pai ilustrador,
a mae jornalista de Unità, a ediçao americana do jornal comunistra italiano. Ela, a jovem intectual que aplicou o provinciano vindo de Duluth, Minnessota, contando-lhe sobre Picasso e Cezanne, cantando-lhe as poesias malditas de Rimbaud. E contando-lhe sobre a tragedia dos negros resumida na morte de Emmett Till que inspirou em Dylan uma de suas primeiras cançoes de protesto.
Bob e Suze erao os jovens principes do Village. E nao por acaso se chama
"A Freewheelin' Time: A Memoir in Greenwich Village in the Sixties", o belo livro de memorias que Suze publicou ha tres anos. "Freewheelin'" significa "à rota livre". "Mas a aliança entre eu e Suze", recordarà Bob, "terminou exatamente por nao ser um passeio no bosque". Dois carateres fortes. Com ela rebelde demais para se acontentar com o papel de musa. E ele rico demais daquele genio grande demais para se recolher ao Village. "Ela tomou uma estrada e eu outra", recordarà Bob em seu livro "Chronicles". Na verdade a estrada de Bob havia jà cruzado com a de Joan Baez. Mas antes de terminar nos braços da rainha do Folk Mister Zimmerman perdeu literalmente a cabeça por aquela "italiana" bonita e cabeça dura.
Quando em 1962 Suze acompanhou sua mae à Italia e viveu "em exilio" na Universidade para estrangeiros de Perugia, a ela Bob dedicou desesperado "Tomorrow is a Long Time": amanha é longe demais.
Tres anos depois suas estradas se separaram realmente. O seu ativismo a fez embarcar para Cuba e a defender até o fim - com muitas polemicas - o regime de Fidel Castro. Casou com um italiano. Continuou a viver no Village. Trabalhou como professora e ilustradora. Somente para o filme documentario de Martin Scorcese "No Direction Home" decidiu falar pela primeira vez sobre Bob. Para depois contar tudo no seu livro-confissao.
Dylan recordarà: "Quantas noites passei acordado a escrever cançoes para depois lhe mostrar e perguntar "ta legal assim?"
Ta legal. Tava otimo. Foi bom demais.

16 de jan. de 2011

Entrevista com Alice Ruiz

Alice Ruiz, a autora que contribuiu enormemente para a popularização do haicai em nosso país, nos deu impressões valiosas sobre poesia nessa conversa exclusiva para o blog do
Poemas no Ônibus e no Trem. Além de estarmos contando com uma artista de repercussão nacional, afiada com a poesia contemporânea e com informações arejadas sobre o gênero, vale lembrar que o Haicai, gênero que Alice tornou-se referência, é um dos mais praticados nas inscrições para o Concurso Poemas no Ônibus e no Trem. Toda edição, algum haicai acaba sendo selecionado ao longo da trajatória do concurso. Alice Ruiz nos brindou com suas considerações generosas sobre o gênero e so-bre criação. Alice Ruiz começou a escrever com apenas 9 anos de idade. Com 26 publica em revistas e jornais culturais, mas só lança seu primeiro livro,Navalhanaliga, em 1980. Seu primeiro Jabuti de Poesia veio em 1989 com o livro Vice versos. Além de escritora,Alice já compôs teve mais de 50 músicas gravadas por parceiros e intérpretes e gravou o CD Paralelas, em parceria com Alzira Espíndola, com as participações e especiais de Zélia Duncan e Arnaldo Antunes. Autora de 19 livros, seu mais re-cente livro,Dois em um, venceu o Prêmio Jabuti na categoria poe-sia em 2009.

Existe um tema central na poesia de Alice Ruiz? ou todo tema cabe em sua poesia desde que lhe faça sentido?

Quando se trata de haikai, o tema é sempre a natureza, para seguir o modelo niponico. Quando acontece um terceto sobre a natureza humana, prefiro chama-lo assim: terceto. Na letra de música, onde tenho também um compromisso de que seja poética, é mais comum que o tema seja a natureza humana, com ênfase nos relacionamentos. Até porque é uma forma de conversar mais de perto com o ouvinte, seduzi-lo de imediato. Já a poesia ela mesma, no sentido ocidental, permite uma gama bem maior de temas e assuntos.

Comente sobre o Poema no Ônibus e no Trem enquanto projeto que leva a poesia para os transportes públicos. Em sua opinão, qual o grande mérito desse projeto?

Difícil achar um mérito único. São muitas as qualidades desse projeto. Oferecer um outro olhar para a realidade. Chamar para a reflexão. Tirar do marasmo do cotidiano. Atrair para a poesia aqueles que, por um motivo ou outro, não a usufruem. Apresentar novos autores para os que já tem o hábito dessa leitura. Colocar beleza no dia a dia.

O haicai, gênero em que você contribiui para qualificar e popularizar no Brasil, e que concentra boa parte da sua produção, é um dos mais produzidos para o Poemas no Ônibus, muito pela sua brevidade e graça. Como você analisa o interesse pelo gênero e seu poder de atração que desperta em leitores e autores?

A letra, diferente do poema para ser lido, pede métrica mais rígida, rimas mais frequentes, incidência das tônicas e, principalmente, coloquialidade. Creio que essas são as principais diferenças. Quanto às semelhanças, a letra pede tanta verdade, elaboração e criação de linguagem, quanto o poema escrito.

Fale sobre a concepção e projeto do belo livro Hai Tropikais, desde o formato (cartão), projeto gráfico, até a parceria da autoria.

Não poderia, a concepção e edição foi do Guilherme Mansur, poeta de Ouro Preto. Foi dele a iniciativa de selecionar alguns haikais meus e do Paulo Leminski e publicá-los nesse volume. Inclusive o título é dele. Nós a recebemos como um presente.

A poesia no mercado editorial é sempre complexa, na sua opinião a poesia deve cada vez mais sair do livro e ganhar outros suportes? você acha que isso pode gerar um número de leitores mais expressivo?

A poesia já migrou para vários suportes. Na música, por exemplo, temos no Brasil a melhor canção do mundo, provavelmente porque nossa canção conta com letras altamente poéticas, além é claro, de compositores musicais inspiradíssimos. E a poesia mais sintética já está no out-door, nos muros, nas camisetas, no vídeo texto, na holografia, na internet. Parece mesmo perfeita para as novas tecnologias. E quanto mais suportes tivermos, melhor será. Quem sabe até possa a vir alterar o comportamento do mercado editorial. Ouço desde menina que a poesia está morrendo, e a sinto e vejo cada vez mais viva.

Duas ou três dicas na hora de escrever o poema que Alice Ruiz considera fundamentais.

Creio que isso está respondido na pergunta quatro. Verdade, elaboração de linguagem, formas novas de dizer o já conhecido, mas também de dizer o novo. Familiaridade com a linguagem e para isso ler muita poesia, teorias sobre poesia, e mesmo prosas que acrescentem conhecimento e idéias poéticas. Universalidade, isto é, falar do que é comum a (e sobre) um maior número de pessoas. Só que tudo isso é feito antes. Na hora de escrever o poema, o ideal é já ter assimilado de tal forma esses fatores, para que o poema nasça espontâneo. Para que a intenção de faze-lo não apareça.



8 de jan. de 2011

O Eixo do Sol

Poema de Haroldo de Campos musicado por Caetano Veloso

Circuladô de fulô ao deus ao demodará
Que deus te guie porque eu não posso guiá
E viva quem já me deu
Circuladô de fulô e ainda quem falta me dá

Soando como um shamisen
E feito apenas com um arame tenso
Um cabo e uma lata velha
Num fim de festafeira
No pino do sol a pino
Mas para outros não existia
Aquela música não podia
Porque não podia popular
Aquela música se não canta não é popular
Se não afina não tintina
Não tarantina
E no entanto puxada na tripa da miséria
Na tripa tensa da mais megera miséria física
E doendo doendo como um prego na palma da mão
Um ferrugem prego cego
Na palma espalma da mão
Coração exposto como um nervo tenso
Retenso um renegro
Prego cego durando na palma polpa da mão ao sol

Circuladô de fulô ao deus ao demodará
Que deus te guie porque eu não posso guiá
E viva quem já me deu
Circuladô de fulô e ainda quem falta me dá

O povo é o inventalínguas
Na malícia da maestria
No matreiro da maravilha
No visgo do improviso
Tenteando a travessia
Azeitava o eixo do sol

Circuladô de fulô ao deus ao demodará
Que deus te guie porque eu não posso guiá
E viva quem já me deu
Circuladô de fulô e ainda quem falta me dá

E não peça que eu te guie
Não peça despeça que eu te guie
Desguie que eu te peça promessa
Que eu te fie
Me deixe
Me esqueça
Me largue
Me desamargue
Que no fim eu acerto
Que no fim eu reverto
Que no fim eu conserto
E para o fim me reservo
E se verá que estou certo
E se verá que tem jeito
E se verá que está feito
Que pelo torto fiz direito
Que quem faz cesto faz cento
Se não guio não lamento
Pois o mestre que me ensinou
Já não dá ensinamento

Circuladô de fulô ao deus ao demodará
Que deus te guie porque eu não posso guiá
E viva quem já me deu
Circuladô de fulô e ainda quem falta me dá