27 de fev. de 2010

Emerson

"Hà um momento na educaçao de cada pessoa em que ela chega a conclusao que a inveja é ignorancia, que a imitaçao é suicidio; que ela deve se assumir por bem ou por mal como a sua porçao; que embora o vasto universo seja pleno de coisas maravilhosas, nenhum grao de nutritivo milho pode lhe chegar senao através de sua labuta naquele pedaço de terra que lhe é dado pra cultivar. O poder que reside nela é novo na natureza, e ninguem mas somente ela sabe o que é que deve fazer, nem ela mesmo sabe até que tenha tentado".

"There is a time in every man's education when he arrives at the conviction that envy is ignorance; that imitation is suicide; that he must take himself for better for worse as his portion; that though the wide universe is full of good, no kernel of nourishing corn can come to him but through his toil bestowed on that plot of ground which is given to him to till. The power which resides in him is new in nature, and none but he knows what that is which he can do, nor does he know until he has tried".

Trecho de "Self-Reliance" (Auto-Confiança) de Ralph Waldo Emerson, traduzido por mim.


26 de fev. de 2010

Afrosamba

Paulo Bellinati e Monica Salmaso se unem na realizaçao de um projeto dedicado aos Afrosambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes: beleza ao quadrado.

25 de fev. de 2010

Manifesto Agua de Coco

O Jardim seja Aqui Agora.
A Beleza seja pura, seja plena,
seja natural, seja artistica,
seja a expressao da liberdade de Ser,
de existir, de exprimir o que se è
na mais justa igualdade de direitos e deveres,
democracia fundamental.
A Paz seja o principio, o meio e o fim
de todos os conflitos, de todos os atritos,
de todos os bem ou mal ditos.
Pelo desarmamento de todas as forças,
de todos os exercitos e instituiçoes.
Militarismo, Nao!
Violencia, Nao!
Cooperaçao, Sim!


Luiz Lima

24 de fev. de 2010

Grande Grande Sertao: Veredas!



Enviado por Catharina Lima

" Todos estão loucos, neste mundo? Porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e que estão para haver são demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça para o total. Todos os sucedidos acontecendo, o sentir forte da gente - o que produz os ventos. Só se pode viver perto do outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura."
" Viver é muito perigoso."

" Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar - é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois no fim dá certo. Mas, se não tem Deus, então a gente não tem licença de coisa nenhuma!" (Riobaldo e Diadorim)

"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza! Só assim de repente, na horinha em que se quer, de propósito - por coragem."


João Guimarães Rosa
Grande Sertão Veredas


Que em 2010, as bençãos dos Céus chovam em todas as hortas,
Catharina Lima

13 de fev. de 2010

Lembrando Fon


Chico Lira

Conheci Fon numa festa na casa de Meira Pires. O ano exato eu não lembro. Lembro daquele rapaz (não tínhamos 18 anos ainda) de voz calma, clara e com um sotaque diferente, como se não fosse nordestino. Fon era magro, parecia mais alto (nem um e oitenta) e usava cabelos compridos (uma juba ondulada), óculos com aros redondos, lentes grossas e esverdeadas. A barba era rala e o bigode quase não tinha. O que ele tinha era um jeito amigável, fazendo perguntas pra ser atencioso com quem conversava: “Você nasceu em Natal?”. Ele puxava o papo. Dias depois passou na minha calçada. Chamou-me atenção como caminhava: passos largos, ligeiros (nem 30 anos depois eu conseguia acompanhá-lo: “Vamos lá, Matéria”). Seu andar era firme e determinado.

Quando me apresentaram Fon (acho que Sara Mires Pires) eu já conhecia seu irmão mais novo, Lola, das corridas noturnas de carros de cocão (rolimãs) no calçadão da AABB (minha amizade com Eustachio veio depois). Fon me conheceu como “Neném”, mas sempre me chamou de Lira por influência dos nossos amigos (Fankiko? Zezito? Gurgel, talvez). Sinto não ter andado naqueles tempos com os irmãos do descoladíssimo conjunto de rock “Vândalos”, mas não era difícil encontrá-los em Natal. Obrigatoriamente estávamos em todas.

A vida era tão boa que o tempo voou. Tudo foi mudando. Crescemos e logo depois dos 20 anos casando... e se separando. Menos Fon com Cathy. Em 1978, eu ainda casado no primeiro, encontrei Fon (abastecendo no Posto da Pitombeira) e surgiu um convite para irmos à sua casa da Candelária. Fomos mais de uma vez. Recordo Afonsinho, com dois anos, brincando com Fernanda, minha filha, com um.

Poucos meses depois e eles se mudaram pro Tirol. Lembro que nessa época Fon passou uma temporada de trabalho no Rio de Janeiro. E quando retornou, os nossos contatos foram tão freqüentes que resultou na produção de “Revolta dos Peixes”, três shows de Lola e banda (era uma de Mossoró, com Kadna Cordeiro, irmã de Cathy na flauta), no Teatro Alberto Maranhão, em fevereiro de 1980. Tudo correu bem com a produção e os shows, mas a “nossa” Mar Grande Produções Artísticas nem chegou a abrir firma. Eu me mudei pro Rio e Fon foi morar na badalada casa da Praia dos Artistas.

No Rio, me encontrava com Lola, que também se mudara pra lá, mas perdi o contato com Fon.

Em 1984, encontrei-o morando em São Paulo. Tomamos umas e outras na noite do Bixiga e dali em diante foram anos de intercâmbio Sampa-Praia Grande. Nossas “reuniões de cúpula” (como ele chamava) serviam para matarmos saudades de Natal e dos amigos: “Sabe quem ficou rico?” “Sabe quem pirou?”

Fon era caseiro. O evento precisava ser muito bom para tirá-lo da toca. Tinha uma vida familiar feliz, e sabia como poucos deixar os seus convidados à vontade. Ele amava o próximo ao se modo: sem grandes demonstrações. E quem conviveu com Fon, principalmente seus familiares, conheceu sua enorme generosidade.

Em 1994, eu pedi a Fon que ele viesse ao litoral para entrevistar o cantor Tim Maia, juntamente comigo e o jornalista Edgar Dall’Acqua. Veio e sofreu com sua calça de veludo em pleno verão. Mas foi ele quem nos salvou quando o irreverente entrevistado resolveu só falar em inglês. Tim Maia podia até vir em outras línguas, porque Fon, além de uma vasta cultura, era poliglota.

Quando, em 2007, ele foi baleado num assalto em seu escritório da Unicef, só soube meses depois. Foi quando trocamos alguns e-mails, mas logo ele adoeceu.

Fui vê-lo uma semana antes de nos deixar na saudade. Estava com sua dedicada e incansável Cathy ao lado. Abracei Afonsinho e Gabriel (seu querido caçula “Gabilunga”). Abracei Eustachio e Lola. Cantamos pra Fon no quarto transformado em UTI. Ali, senti que só um milagre. Mas também senti que Fon já era imortal.